A dor virá
Entre eu e mim
o balanço derramado,
espécie de vertigem que me inadequa
a vida
inspiro, expiro
desregulada, a respiração
antecipando-me o choque,
frontal
a areia, estalada sob o calor intenso
até ao subsolo
tremendo no abalo,
a vida
expiro, inspiro
um pouco mais tarde
as ruas abertas, a golpes de machado
desesperando
a tentativa de fuzilar o Tempo.
Assim me indicio na fuga,
o horizonte
apartado a minha cintura,
de modo que
as árvores não mais me dancem
as sistoles, as diástoles
inspiro, expiro
a vida.
De qualquer modo, a dor virá,
de qualquer modo,
a dor será intensa
a dor tornar-me-á insuportável
o nauseabundo cheiro das artérias
rebentando o sangue em mim apodrecido.