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segunda-feira, 27 de agosto de 2018

De rerum natura - I - Fotografia: Paula Santo António; Texto: Rui Carvalho



Tudo se trata de instantes, de fazê-los esticar até onde pudermos, o máximo que pudermos. Com o esticar dos instantes virá o distender da alma. 
Há uma intensidade em tudo isto. Quando olhamos o mundo o mundo é em nós. É necessário estar atento. Saber aguardar. Aguardar que os instantes ocorram. Saber aguardar é toda uma filosofia. 
Há um momento em que tudo ocorre. Nós estamos lá, nesse exacto momento. Sempre lá estivemos. Apenas não damos por isso. Não há um princípio. Não há sequer um fim. Há um instante em que tudo se repete. Esse instante chama-se grande explosão. Tudo se trata de grandes explosões. Tudo é fogo, tudo é em chamas. Há apenas fogueiras que ardem mais e outras fogueiras que ardem menos. Há também fogueiras que são apenas em potência, jamais se dão em acto. Apenas isso nos diferencia. 
Devemos saber fazer-nos arder, deixar-nos incendiar por entre as chamas. 
Esta é a beleza de tudo, tudo é dentro dos teus olhos. 

Fotografia: Paula Santo António
Texto: Rui Carvalho

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Breve tratado acerca de jardinar

Eis um escritor: um animal ardendo na descrença, vagando as palavras para não morrer de tédio, ou não matar de ódio. 

Rui Carvalho, s. d.

domingo, 19 de agosto de 2018

Útero - XXI - Fotografia: Sónia Nobre; Texto: Rui Carvalho



Este é o amor, síncrono. Habitamos planetas distantes. Tu ali e eu aqui. Há que rasgar a pele, lembras? Mostrar aos ossos as suas vísceras. E o silêncio, um espaço ainda simples. Sem rasgos de luz, ainda não. Quando estiver perto avistarei teu nome. 
Desde onde os rios correm? E as palavras? Desde onde nos perdemos? 
Lá em baixo havia água. Na nossa infância enchíamos os cântaros, levávamos a luz na pressa exangue de nos perdermos. 
Depressa nos tornámos homens, gente tão indecifrável. 
É claro que não sei… 
As perguntas são difíceis, minha filha. Num qualquer século impossível tornar-nos-e-mos hologramas. Sim, seremos visíveis para sempre. Mas não é isso que importa. Ou. Será apenas isso? Deus é um pronome impossível, uma espécie de luz isenta de matéria. Porque não os hologramas? Porque não sermos apenas luz? Uma vibração preenchendo as galáxias, o espírito correndo por dentro de nós…

Fotografia: Sónia Nobre
Texto: Rui Carvalho

domingo, 12 de agosto de 2018

Breve tratado acerca da arte de jardinar

A história daquilo que não fomos não tem quotidiano, por isso é sempre essa a história mais bela.

Rui Carvalho, s. d.

sábado, 4 de agosto de 2018