Sendo o horizonte curvilíneo, torna-se-nos impossível visar o que quer que seja para lá de nós mesmos. Por conseguinte, nunca sabemos o que nos espera do outro lado do mundo. Entre uma vida e outra vida há sempre um espaço de permeio. A magia ocorre sempre que esse espaço se preenche. Somos colados ao enigma e colados no enigma transgredimos nossos corpos.
Com a alma sobre os ombros, transcorro o horizonte do possível. Às costas carrego os continentes, a possibilidade dos oceanos; uma ponte rudimentar predispondo a interligação. Somos breves ilhas de sentido. Ainda assim, há algumas vozes que nos ligam, um qualquer breve e intenso olhar, qualquer coisa outra que não sabemos dizer ainda. Uma luz, é isso. Uma luz conduzindo-nos por entre as trevas.
Entre Ícaro, sobrevoando o labirinto, e Dédalo, aguardando a possibilidade do voo, há uma invisível mão que me fixa. Algo que me escreve até às cinzas.
Fotografia: Céu Baptista
Texto: Rui Carvalho
Fotografia: Céu Baptista
Texto: Rui Carvalho