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domingo, 25 de março de 2018

Tale of a man who whispered to the flowers - XXXIV - Fotografia: Céu Baptista; Texto: Rui Carvalho



As flores nascem e murcham no mesmo exacto lugar. Assim mesmo, a vida e a morte professam uma mesma exactidão, ambas tendem uma para a outra. Eu tendo para restar só, para que em solidão possa escutar o sopro do mundo. 
Atraídos pelo fogo, embarcamos verbos não dizíveis. 
No principio era o verbo, lembras? 
Esquecemo-nos do que mais importa. Que há fragrâncias que nos libertam, que tornados um somos tornados outros. Os opostos unem-se para o nascimento de um terceiro, o amor ou o ódio. A isso podemos dar um nome: dialéctica. 
Há fragrâncias que nos libertam. Sentimo-las nos olhos, fervendo até ao céu. Libertos do que somos seriamos mais perto do fluir das coisas. Isso é o máximo que podemos ser: elevarmo-nos no sopro e soprados atingirmos a razia de um outro mundo. 
Serei leve, leve até à queda. Na queda serei breve. 
Cairei, com estilo…

Fotografia: Céu Baptista
Texto: Rui Carvalho


domingo, 11 de março de 2018

Tale of a man who whispered to the flowers - XXXIII - Fotografia: Céu Baptista; Texto: Rui Carvalho



Tal como nós, também as civilizações se extinguem. Tudo se extingue excepto o amor; o amor e o ódio. O universo gere-se na constância desse equilíbrio.
Durante a noite os rios florescem, tanto que quase soterram o medo. Contudo, quando a manhã nos alcança tudo se apaga. Não fosse a memória seriamos outros, a cada segundo, literalmente. Deve ser isso que acontece com os loucos, a perda da memória. Se perdêssemos a memória estaríamos mais perto do cerne do mundo. Do cerne do mundo e do sopro dos deuses.   
Manhã, tarde, noite.
Tudo se dá numa quase eterna repetição.
Quando em queda, o corpo atinge a estrondosa velocidade dos dias.
A queda. 
O cerne do mundo.
O sopro dos deuses. 
Manhã, tarde, noite. 
E os teus olhos, os teus olhos como um fogo. 

Fotografia: Céu Baptista
Texto: Rui Carvalho

quarta-feira, 7 de março de 2018

Breve tratado acerca da arte de jardinar

Há este intenso processo de construção. Primeiro está-se só com os livros. Depois, só os livros nos podem fazer companhia.

domingo, 4 de março de 2018

Tale of a man who whispered to the flowers - XXXII - Fotografia: Céu Baptista; Texto: Rui Carvalho



A cada dia somos um passo a menos. 
Vertemos na superfície das coisas, supérfluos como água escorrendo no rosto dos deuses. 
Ainda assim:
agora que somos mais próximos do vôo viajaremos os céus. 
Foi necessário irmos de encontro aos vendavais para readquirirmos a força do vento, algo que nos pudesse aproximar a longínqua sabedoria do que ainda não está feito.
Os muros rente ao correr dos rios serão a certeza do mundo, e com o auxílio de nossas mãos reergueremos as casas desertas. Nelas se habitarão duendes, um reino de fantasia. Iremos de perda em perda até ao desértico cantar dos pássaros; assim iludiremos o medo. 
Após a descoberta do canto nada mais nos poderá deter.
Desperdiçar-nos-emos no amor. 
Aqui arderemos, 
                            como uma febre.


Fotografia: Céu Baptista
Texto: Rui Carvalho