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sexta-feira, 7 de setembro de 2018

De rerum natura - II - Fotografia: Paula Santo António; Texto: Rui Carvalho



Eis o lento trabalho da paciência, o rendilhado das águas escorrendo até à nossa sede. Acho que fomos ganhando balanço com a força da nascente. Seguindo o balanço deixa de haver atrito que nos fixe, somente um lastro que nos ganha - mesmo no decurso dos mais íngremes caminhos.
Devemos ter rondado coisas supérfluas, a mera imitação de uma vida. Tementes ao grito, continuamente saltámos por cima dos instantes. Após darmos por nós já não temos onde cair, nenhum outro lugar que não seja o vazio material das coisas.
É aqui que o mundo nos rompe, no exacto local onde a natureza é prenhe de sentido. Percorremos tantos rios para aqui chegar. 
Os peixes não têm água a mais, transcorrem numa espécie única de beleza. Aqui nos devemos debruçar os olhos, alcançar o cerne dos elementos. Até porque: o mergulho é uma arte exigente.
Agora é agora - o local onde mergulhamos a intensa meticulosidade dos peixes. 
Eis-nos no espanto, acabados de chegar a nós mesmos. 

Fotografia: Paula Santo António
Texto: Rui Carvalho