Apreender a técnica para girar até à possibilidade do polimento, a transmutação deste lugar num lugar vazio. Adquirir a forma da vagueza. Ser vago, tanto quanto possível. Atingir assim o cerne da necessidade de repleção.
Chamar a si a atração gravitacional, a repercursão do prodígio galáctico nas circunstâncias moleculares. O humano e o divino centrando o universo, girando o mundo até à plenitude da ausência.
Entre a cabeça e os pés, a continuidade do giro.
Girar no sentido horário.
Após várias voltas, levantar a palma direita da mão e abaixar a palma esquerda. Deixar o céu incidir na palma direita para que possa perpassar o corpo. Centrar-se no centro da terra e aí adquirir a forma da instrumentalidade, deixar ser-se um mero instrumento.
Deus - o poder que entra é idêntico ao poder que sai.
Trocar a posição dos braços, inverter a direção para a esquerda, no sentido anti-horário. Deixar o cérebro girar, também em círculos. Os círculos que a cabeça executa devem ser executados na direção inversa à das voltas do corpo.
Executar uma série completa de mudras até atingir a plenitude da respiração, o controle da velocidade dos giros.
Tornar o corpo o local onde a energia flui, a sensação de darshan desde o centro da terra. O divino, entre a Terra e o Sol. As estruturas moleculares, os campos energéticos centrando o Universo.
O domínio.
Ver algo é tornar-se esse algo. Adquirir o modo do vislumbre.
Girar pois até à ausência de si mesmo. Tão só a ausência de si pode abarcar o ser universal.
Adquirir a forma de uma casa vazia. Adquirir-se assim à possibilidade de tornar-se uma casa cheia.
Sema, a busca por Deus, a verdade - girando.
Fotografia: José João Loureiro
Texto: Rui Carvalho