São os flocos de neve inscritos no solo que me apaziguam a intensidade da névoa, essa promiscuidade do gelo na paisagem.
Entretanto.
Há uma beleza que me resta desde a antiguidade do solo, uma espécie de murmúrio que me irrompe no desejo das ervas, por entre a relva resplandecendo até ser tarde.
Aqui me habito nos desastres, é deles que me alimento.
Enquanto isso, em ânsia aguardo a aquisição deste maldito dom. Como quem guarda em si a morte do corpo, em oração me regrido até rasar o rompimento das águas.
Após rasar o útero do mundo serei de novo prestes no dom do esquecimento, essa longínqua maldição tornando-me apto a suportar o inefável peso do saber, o alagar dos olhos até à profusão do esquecimento.
É isto: nada resiste à barbárie dos dias, sequer os dias eles mesmos.
Fotografia: José João Loureiro
Texto: Rui Carvalho
Tal texto, tal imagem! Uma beleza
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