Entre um corpo e outro corpo nada há. Nada excepto o vazio que nos habita. De tempos em tempos ocorre uma qualquer ignição. Por vezes, a ardência é tanta que chega a incendiar-nos os mundos.
É pois fundamental que saibamos preencher esse espaço; que, como loucos, nos desencarceremos nos nano-milímetros que nos separam. Que depois de desencarcerados possamos então olhar o vazio em redor. Que aí possamos visar uma brecha desde onde possa ocorrer o dilúvio.
Tornados um só, aguardaremos então ser chamados ao embarque das cidades novas. Haverá o oceano em redor e nele perdurará o silêncio dos crepúsculos. Tornar-nos-emos Noé, o homem avisado para os chamamentos do mundo. O mundo chamar-nos-á até à proximidade da ruptura e será esse o instante em que nos tocaremos.
Beberemos então toda a água vertendo em nossos corpos, o sinal da aliança, o universal signo da alegria.
Que entre meu corpo e o teu corpo nada haja, nada excepto a paixão que nos situa.
Fotografia: Céu Baptista
Texto: Rui Carvalho
Fotografia: Céu Baptista
Texto: Rui Carvalho
Excelente
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