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quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

De Rerum Natura - V - Fotografia: Paula Santo António; Texto: Rui Carvalho



Os loucos acampam rente ao mar. Como se estivéssemos nos primeiros dias de verão, os loucos vão chegando cedo. As praias estão ainda desertas e eles já lá estão, sentados. Os loucos erguem tendas em redor das paisagens, sentam-se frente a frente com o impossível. Mais tarde, quando as pessoas chegarem, os loucos adormecerão. Sem que ninguém saiba que adormeceram farão o sol chegar. A canícula ecoará nas paisagens e depois fará ricochete. Convém que as portas fechem rápido, de modo a que do incêndio só nos fique o calor.
Enquanto dormem os loucos sonham. Dentro dos seus sonhos há lugares repletos. As paisagens serão alagadas e nós estaremos lá, seremos alagados pela preciosidade do tempo. Nada se dá da mesma maneira porque tudo se mistura. 
Até que a depuração nos alcance serão necessários muitos rombos, inúmeras noites em branco resolvendo as formas do mundo. 
Estas são as águas, este é o fogo que as move.

Fotografia: Paula Santo António
Texto: Rui Carvalho

1 comentário:

  1. Muito bom, mas tinha que escrever isto em todos os textos... Estou preguiçosa, mas rendida! Parabéns

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